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sábado, 26 de dezembro de 2009

"HISTÓRIA DE NATAL"



Eu, menino, sentado na calçada, sob um sol escaldante, observava a movimentação das pessoas em volta, e tentava compreender o que se estava a passar. O que é o Natal? Perguntava-me, em silêncio. Eu, menino, ouvira falar que aquele era o dia em que o Pai Natal, no seu trenó puxado por renas, cruzava os céus distribuindo brinquedos a todas as crianças. E por que então, eu, que passo a madrugada ao relento nunca vi o trenó voador? Onde estão os meus presentes? Perguntava-me. E eu, menino, imaginava que o Natal não deveria ser isso Talvez fosse um dia especial, em que as pessoas abraçassem seus familiares e fossem mais amigas umas das outras. Ou talvez fosse o dia da fraternidade e do perdão. Mas então por que eu, sentado na rua ao frio, não recebo sequer um sorriso? Perguntava-me, com tristeza. E porque é que a polícia trabalha no Natal? E eu, menino, entendia que não devia ser assim... Imaginava que talvez o Natal fosse um dia mágico porque as pessoas enchem as igrejas em busca de Deus. Mas por que, então, não saem de lá melhores do que entraram? Debatia-me, na ânsia de compreender essa ocasião diferente. Via risos, mas eram gargalhadas que escondiam tanta tristeza e ódio, tanta amargura e sofrimento... E eu, menino, mergulhado em tão profundas reflexões, vi aproximar-se um homem... Era um belo homem Não era gordo nem magro, nem alto nem baixo, nem branco, nem preto, nem pardo, nem amarelo ou vermelho. Era apenas um homem com olhos cor de ternura e um sorriso em forma de carinho que, numa voz em tom de carinho, saudou-me:
Olá, menino! Olá!... Respondi, meio tímido. E, com grande admiração, vi-o acomodar-se a meu lado, na calçada. Eu, menino, aceitei-o como amigo, num olhar. E atirei-lhe a pergunta que me inquietava e entristecia: Que é o Natal? Ele, sorrindo ainda mais, respondeu-me, sereno: É o dia do meu aniversário. Como assim? Perguntei, percebendo que ele estava sozinho. Por que não está em casa onde estão os seus familiares? E ele respondeu: Esta é a minha família, apontando para aquelas pessoas que andavam apressadas. E eu, menino, não compreendi. Você também faz parte da minha família... Acrescentou o menino, aumentando a confusão na sua cabeça. Não o conheço! Disse. É porque nunca te falaram de mim. Mas eu conheço-te. E amo-te... Tremi de emoção com aquelas palavras, na minha fragilidade de menino. Você deve estar muito triste, comentei. Porque está sozinho, justo no dia do próprio aniversário…Neste momento, estou contigo! Respondeu-me, com um sorriso. E conversamos...uma conversa de poucas palavras, muito silêncio, muitos olhares e um grande sentimento, naquela prece que fazia arder o coração e a própria alma. A noite chegou... E as primeiras estrelas surgiram no céu. E conversamos... Eu, menino, e ele. Ele me falava, eu o entendia. Eu o sentia. Eu o amava... Eu, menino: sou as cordas. Ele: o artista. E entre nós dois se fez a melodia!... E eu, menino, sorri... Quando a madrugada chegou e enquanto piscavam as luzes que iluminavam as casas, ele se ergueu e eu adivinhei que era a despedida. Eu suspirava, de alma renovada. Abracei-o pela cintura, e disse-lhe: Feliz aniversário! Ele ergueu-me no ar, com Seus braços fortes, tão fortes quanto a paz, e disse-me: Presenteou-me compartilhando este abraço com a minha família, que também é sua... Ame-os com respeito. Respeite-os com ternura, com carinho e amizade. E tenha um feliz Natal! E porque eu não o queria ver partir, saí correndo pela rua. Abandonei-o, levando-o para sempre no mais íntimo do meu coração... E saí em busca de braços que aceitassem os meus... E eu, menino, nunca mais o vi. Mas fiquei com a certeza de que Ele estará comigo, e não apenas nas noites de Natal... E eu, menino, sorri... pois agora eu sei que Ele é JESUS... E é por causa Dele que existe o Natal.

sábado, 12 de dezembro de 2009

"CAMPANHA DE SOLIDARIEDADE - ISABELA"


A Historia de Natal anteriormente escrita, vai ser publicada na blogagem colectiva de Dezembro "O Natal na minha terra" no blog Http://www.aldeiadaminhavida.blogspot.com/
Visite este blog e vote no seu texto preferido.

Ao votar, está a contribuir para uma causa de CAMPANHA DE SOLIDARIEDADE - ISABELA, visite o blog atrás mencionado e verá como o pode fazer.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O NATAL NA MINHA TERRA


A época de Natal era, e ainda é, para mim uma das épocas mais bonitas do ano.
Vivi numa aldeia até aos vinte e três anos e recordo com saudade os natais ali passados. Ainda hoje tenho na minha memória os montes cheios de geada (ou neve), o cheiro da terra molhada e, logo pela manhãzinha, cheirava a lenha queimada… que saudades!
Era, e é, um tempo de família.
Não foram tempos fáceis. Havia muita pobreza mas o Natal daquela época era vivido como a época em que nasceu Jesus e não naquilo que se tornou hoje, época de consumismo e de correrias para as lojas. No entanto, seja no passado ou nos tempos actuais o Natal é uma época muito especial.

Bem, lembro-me do natal na minha terra:
A preparação do Natal começava com alguma antecedência. Como não havia dinheiro para comprar as figuras do presépio, tudo era feito por mim e pelos meus irmãos.
Íamos ao campo apanhar o musgo, a cabana era feita de paus revestidos de palha de centeio. O São José, a Nossa Senhora, o Menino Jesus, a vaquinha e o burrito eram feitos com muito cuidado e normalmente eram representados por bonecos feitos de tecido e pintados com os nossos lápis da escola.
As casas eram feitas com pedras pequenas, pintadas de cal branca e decoradas com pedacinhos de paus, as ovelhas com lã que tiravamos das ovelhas que pastávamos ao longo do ano. Já a igreja era simbolizada por uma cruz feita com paus, o moleiro e os figurantes com boneco de trapos.
Os meus irmãos e o meu pai iam cortar um pinheiro para a árvore de natal que era enfeitada com tiras de tecido que eu e a minha mãe cortávamos de trapos velhos, fazíamos um grande novelo e depois andavamos a volta da árvore a enfeitá-la. Como os panos tinham várias cores ficava muito bonita, pendurávamos imagens de papel feitas por nós.

Na noite de natal, vestiamos uma roupa melhor (a roupa de domingo) e jantávamos as batatas com couves, ovos e bacalhau (este era só quando havia).
Depois, por volta da meia-noite, íamos à missa do galo. Mas como a igreja era na vila de Góis, que ficava a 4 Km, e íamos normalmente a pé, tínhamos de sair de casa uma hora mais cedo para chegar lá à meia noite, regressávamos e junto à lareira deixávamos os nossos sapatos para o menino Jesus vir deixar uma prendinha.

No dia de Natal acordávamos cedo. Apesar de pobres, o nosso menino Jesus deixava o que podia dentro das nossas botas de borracha (imaginem que nós deixávamos as botas de borracha porque tinham um cano mais alto e cabia uma prenda maior). Uma prenda simples como umas meias, uma camisola ou simplesmente um bocadinho de palha davam-nos toda a felicidade do mundo. Esta palha era vendida ao quilo, e era composta pelas aparas das bolachas de baunilha. A cada um calhava um bocadinho embrulhado num cartucho, feito de papel da lista telefónica. Não reclamávamos a prenda, mas a minha mãe logo me dizia: "Sabem, o Menino Jesus é pobre, este ano só te trouxe isto, para o ano talvez seja melhor!”

Depois da azáfama das prendas íamos assistir à missa, na igreja da vila para beijar o menino Jesus e agradecer-lhe as prendas recebidas.
O almoço deste dia era um bocadinho melhor: canja de galinha e arroz com galinha ou um bocado de carne de porco, arroz doce, letria pão-de-ló e filhós, sempre que possível, na companhia da família e amigos.
Há noite, juntavam-se todas as pessoas no largo que fica no meio da aldeia onde previamente tínhamos feito uma fogueira com troncos de pinheiro e oliveira que era acesa na véspera de Natal e durava até dia dos Reis. Ali se comia, cantava os cânticos de natal, dançava ao som das concertinas e percorríamos as ruas da aldeia visitando algumas casas… era uma alegria!

E era assim o Natal na minha terra. Que diferente é a Noite de Natal dos nossos filhos. O sapatinho já não vai para a lareira e as prendas são abundantes e algumas dadas antes do tempo. Enfim, são os sinais dos tempos...

Tenho duas filhas e desde pequenas que faço questão de lhes transmitir como era o meu natal quando eu era pequena e como ficava feliz com as minhas prendas.

A MINHA ALDEIA

" Da minha aldeia vejo quando da terra se pode ver no Universo....
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver. "
Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos"