Normalmente as pessoas falavam umas às outras para irem apanhar a azeitona, um dia iam para uma família no dia seguinte para outra até a apanha terminar.
Mas nem sempre era possível se juntarem grandes ranchos de pessoas e assim cada casa ia com a sua própria família apanhar a sua própria azeitona.
Lembro-me de começar bem pequenina, bem cedo logo pela manhã, ia-mos apanhar a azeitona. Reuniam-se homens e mulheres abastecidos dos respectivos apetrechos indispensáveis à safra: escadas; cambos ou cambãos (pau com gancho para apanhar os frutos); sacos;
Chegava-mos , montávamos as escadas de madeira e subia-mos até a ponta da oliveira. Com um sarrão, a cintura ou os cestos de verga apanhava-mos a azeitona uma a uma.
Depois da oliveira estar toda limpa tínhamos que colher as que estavam no meio das ervas. Não era fácil, pois como a colheita é no mês de Novembro e Dezembro e por vezes início de Janeiro, o tempo está muito frio e as mãos gelavam, ficavam engadanhadas como se dizia antigamente. Então eu dizia mãe tenho as mãos engadanhadas, ela respondia assopra ar quente com a boca e mete-as um bocadito debaixo dos braços. Confesso que não era fácil.
Anos mais tarde já eram espalhados debaixo das oliveiras uns panais, (panos que se estendem junto às oliveiras onde caem as azeitonas). Estes eram grandes serapilheiras ou bocados de tecidos velhos cozidos uns aos outros pelas pessoas. Tinham como fim, quando azeitona cai-se aquando da apanha ,em cima do panal, era mais fácil de colher.
À entrada desta rua
Logo mesmo à entrada
Há uma oliveirinha nova
Que ainda não foi abanada
Apanhemos a azeitona
Que a comem os pardais
Comem uma, comem duas
Comem três, não comem mais.
Azeitona miudinha
O rouxinol a namora
Pega nela no bico
Bate a asa vai-se embora.
A tua oliveira é grande
Mas a azeitona é miudinha,
Não penses que me enganas
Pois a minha é mais graudinha.
Mais graúda é a tua
Mas de qualidade menor,
Quando o meu azeite chegar
Terá muito melhor sabor.
"Verde foi meu nascimento,
Mas de luto me vesti;
E, para dar a luz ao mundo,
Mil tormentos padeci.
Como demorava alguns dias para apanhar a azeitona toda, era utilizado um método que era o seguinte:
No final do dia despejava-se a azeitona para um panal e era escolhida, ou seja, retirada a folhas e o lixo que tinha. Depois era colocada na tulha, uma camada de azeitona, uma camada de sal, assim sucessivamente até terminar a apanha.
Posteriormente era comunicado aos lagareiros que trabalhavam no lagar que existia em Góis, que a azeitona estava pronta e ensacada para levar, como havia poucos lagares por vezes esperava-se alguns dias para as viram buscar. Passavam com uma camioneta e levavam as de mais pessoas.
Ao chegar ao lagar por vezes tinham ainda de esperar um dia. Para cada um conhecer o seu saco de azeitona metia-se um papel, um fio de outra cor qualquer sinal, servia desde que não fossem misturadas pois cada um queria o seu azeite.
No dia da moagem do azeite, os proprietários da azeitona tinham de ficar no lagar a ajudar os lagareiros. Quando a azeitona não chegava para um moinho a azeitona era pesada e o proprietário trazia os litros do azeite, conforme os quilos de azeitona que tivesse levado. Normalmente tínhamos azeite para todo o ano! Havia anos em que tinhamos mais. Outros anos haviam menos. Depende, conforme a azeitona que fosse, porque as oliveiras nem sempre carregavam todos os anos.
A azeitona era despejada para o pio depois começava a moagem, Dentro do pio existiam a Galga, onde rodavam duas imensas rodas de pedra, as mós, que pisavam a azeitona até ficar tudo feito numa massa preta.
Quando a massa da azeitona estava em condições era colocada em seiras (uma espécie de capacho redondo, em tecido de sisal, algumas, já na era do plástico, entrelaçadas por cordão de fibra sintética), e colocadas umas sobre as outras, até atingir a altura de um homem (1,80m +/-) em ccima da vagoneta, nos seus próprios carris por onde circulava em direcção às prensas.
A vagoneta tinha uma torneira, por onde saía a água russa com o azeite, que depois era encaminhada para umas grandes tinas de metal, "as tarefas".
Nesta operação podem ser utilizados entre quarenta a cinquenta «capachos», alternando com outras tantas camadas de azeitona, cada camada correspondendo, aproximadamente, a dez quilos de pasta de azeitona.
O líquido assim obtido corre da prensa para as pias ou talhas de pedra (designadas, antigamente, na Beira Litoral, por «tarefas»), tomando, a partir daí, o nome de «águas russas». A substância permanece nas pias entre três a quatro horas para efectuar-se a decantação, ou seja, para que o azeite venha ao de cima, enquanto as impurezas ou «almofeira» é escoada pelo «ladrão», uma abertura no fundo da pia, que a leva para um outro depósito, que não se encontra à vista. As impurezas ou subproduto escoado e depositado no «ladrão» são utilizados em várias aplicações: rações para animais, óleos, sabões, etc.
Nestas tinas depositavam-se a água e o azeite, com água quente, permanentemente, a correr para dentro delas. Esses depósitos possuíam uma torneira na parte inferior, por onde ia sendo retirada a água à medida que o azeite se ia purificando e aparecia, dourado, na superfície da água.
As tarefas possuíam outra torneira na parte superior, ligada aos tubos que conduziam à separadora. Quando o azeite já estava decantado, vazava-se água suficiente, para que o azeite se, encontrasse sempre à superfície e chegasse ao orifício dessa torneira, para sair para a separadora no percurso da purificação final.
A fornalha, espaço onde se acendia e mantinha permanentemente uma forte fogueira, situava-se na parte inferior da caldeira metálica em que a água era aquecida. A água entrava fria, vinda do rio, e saía a ferver para as máquinas e para as diversas tarefas que o pessoal tinha que desempenhar com a ajuda dos proprietários da azeitona.
Existia a separadora que servia para quando o azeite já estava quase liberto da água e das maiores impurezas, era levado por tubos para a separadora, que lhe dava o retoque final. Separava definitivamente a água e as impurezas do azeite.
O azeite, depois de ter sido passado pela separadora, era colocado nestes potes nos quais era transportado e entregue na casa do proprietário da azeitona.
Este processo era muito demorado. Por vezes as pessoas ficavam lá um dia e uma noite. Então para matar a fome, as pessoas levavam batatas. O Lagareiro sabia aproveitar muito bem os meios que tinha ao seu dispor. Os seus afazeres não lhe permitiam confeccionar outros alimentos. Assim, colocava as batatas e o bacalhau na fornalha e bastava dispensar-lhe um pouco de atenção, sem perturbar o seu trabalho, enquanto as máquinas lhe impunham desembaraço, no espaço e no tempo.
Conseguia ver confeccionada a sua refeição e dos restantes, quase sem se preocupar. Bastava-lhe colocar lá os alimentos, dar-lhe uma mexedela, sempre que tivesse que abastecer de lenha na fornalha e esperar que as brasas fizessem o resto.
Assim, se repetem, no desfiar dos anos, ritos e tarefas, risos e confraternização, nascidos de um tempo que não se apaga na memória das gentes. Todavia, se do presente pouco há a dizer, do passado não. Por isso se lembra aqui algumas das tradições de outros tempos das quais restam ainda alguns rituais que teimam em sobreviver.
Mas os tempos mudaram, e hoje estes lagares não são permitidos por lei. Hoje, mesmo que os actuais proprietários quisessem manter este Lagar a funcionar, isso não seria possível, poisas múltiplas exigências da União Europeia não o permitem.
Enfim!
São circunstâncias do tempo.
A azeitona segue as fases de um fruto normal, quer dizer:
A árvore floresce, nos meses de Maio e Junho.
Dessa flor nascem as azeitonas, minúsculas bagas verdes, que vão crescendo com o tempo, durante cinco/seis meses.
Nesse período a azeitona amadurece e toma a cor preta.
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