Lá dentro um engenho composto de duas mós em pedra de granito, rodeadas de três lajes altas a que chamavam o "cambado". Sobre a mó de cima estava a "moega", uma espécie de caixa afunilada em madeira, onde se deitava o cereal para moer. Este saía pelo fundo da "moega", através da "quelha", uma pequena calha em madeira suspensa por três cordéis que regulavam a saída do cereal, rápida ou lenta. Sobre esta, assentava um dos três braços do "chamadouro", uma espécie de cruz em madeira que ao mesmo tempo assentava sobre a mó superior do moinho, fazendo tremer a calha e cair o cereal lentamente para o olho da mó, que depois de transformado em farinha caía para o "tremunhado".
Na mó superior encaixava a "segurelha", peça de ferro em forma de cruz que por sua vez ligava à "vela", um tronco de madeira aprumado, onde encaixava o "rodízio" uma espécie de roda formada por vinte e quatro penas de madeira nas quais batia a água fazendo mover o moinho.
Este conjunto, situava-se no "cabouco", parte inferior do moinho, assente sobre a "grama", um tronco de medronheiro bifurcado ao qual ligava o pau da cruz vindo do interior do moinho que regulava as mós para moerem mais fino ou mais grosso, conforme o moleiro subisse ou descesse a mesma.
Depois de moída, a farinha era levada para casa em sarrões a fim de se cozer o pão que geralmente era sempre broa, dado que o centeio era só confeccionado em dias de festa. No entanto a sua farinha habitualmente era misturada com a de milho para tornar a broa mais macia e saborosa.
Também este moinho era comunitário onde todos podiam moer o seu milho ou trigo. Contudo, havia regras, cada um tinha o seu dia ou noite. Rodava por todas as famílias da aldeia. Quando alguém precisava de moer no dia do outro tinha de pedir autorização. Lembro-me de ir ao moinho do Javiel com a minha mãe já muito tarde ao longo da noite. Na mão levava-mos a candeia a petróleo para nos alumiar o caminho. Eu tinha muito medo, ia sempre agarrada à saia da minha mãe, pois na altura contava-se que havia lobisomes que atacavam as pessoas de noite.
1 comentário:
Como são lindos os moinhos, Eugénia! Gostei muito deste teu post. Venho sempre dar uma olhadela...
Estou a ler um livro fantástico (a reler...)da George Eliot, (séc.XIX)romancista inglesa: "O moinho à beira do rio". Procura: hás-de gostar...
Enviar um comentário