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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

A PEDRA LETREIRA

“Quem, no concelho de Góis, tomar a estrada nacional n.º 2, de Chaves a Faro, e ao km 290,85, na Portela do Vento, onde se forma o desvio para Castelo Branco (estrada n.º 112), meter pelo caminho carreteiro que das traseiras da Casa dos Cantoneiros segue, rumo a sudoeste, pelo viso do monte da Fonte Fria, não tem mais do que, à terceira barroca ou linha de água, cortar monte abaixo pela vertente voltada a noroeste para, andada uma centena de passos, avistar ao fundo, à esquerda do leito do talvegue, uma espécie de plataforma debruçada, a meia encosta, para o amplo anfiteatro de montanhas que se lhe abre em frente: é a Pedra Letreira.

Trata-se de um afloramento de xisto ante-câmbrico, de estratificação vertical correndo de Sudoeste a Noroeste, em cuja superfície, horizontalmente aplanada, há uma série de figuras gravadas e tidas, pela gente das imediações, por estranhos caracteres de enigmático letreiro, obra de mouros que teriam ali deixado apontamento dos seus legendários tesouros encantados ou das suas fabulosas riquezas escondidas por aqueles sítios.


Em frente à Pedra Letreira
há três minas em carreira:
uma de ouro, outra de prata
e outra de peste que mata!

É que não há tradição sem lenda, como não há ruína sem hera. Ela é como um penhor da sua antiguidade, por vezes tão remota que se lhe perde o sentido. Foi o que se deu com o nosso monumento.
No panorama circundante, não constitui a Pedra Letreira um documento que digamos único da presença do homem por aquelas paragens em tempos mais ou menos recuados.

Em frente, na linha do poente, lá estão as minas romanas da Escádia, em cujos nichos dos hastiais, abertos a 1,20m acima do solo e distanciados cerca de 2m uns dos outros, ainda se encontravam, quando há anos se procedeu ao desentulhamento das respectivas galerias, algumas lucernas…
Mais adiante, na mesma direcção, mas já dobrada a encosta, há o lugar dos Povorais com as suas minas antigas de que procedem dois picões de ferro, de época romana, depositados no Museu dos Serviços Geológicos de Portugal, em Lisboa…
Cara ao norte, no Alto das Cabeçadas, temos os poços romanos, de exploração mineira, conhecidos pelas Covas dos Ladrões…
E mais para além, vencida a serra da Folgosa e ultrapassado o Rabadão, não podemos deixar de referir as minas pré-históricas da Eira dos Mouros, na encosta da Devouga, ao Liboreiro, com materiais de feição eneolítica e demais períodos do Bronze.
Estes e outros vestígios do passado, ainda mal conhecidos, são indícios para já suficientemente reveladores de uma longa e activa permanência humana por aquelas redondezas, motivada ao que parece pela sua relativa abundância de minérios, o ouro e o estanho sobretudo. São como anéis desarticulados e dispersos de imaginária cadeia forjada, na bigorna dos séculos, por gerações atrás de gerações. Pobres restos materiais, aparentemente sem valor, que encerram no entanto a alma e a mentalidade dos povos que ali se sucederam e os deixaram, é através deles que teremos de refazer e articular de novo os elos da cadeia, se quisermos vir a ter um pálido vislumbre da sua trajectória pela penumbra dos milénios. Em tal sentido, não é a Pedra Letreira senão um de entre tantos. Procurando atribuir-lhe o lugar que lhe pertence, intentamos mais que nada preencher uma das muitas lacunas da Pré-história local.”






Limitámo-nos a transcrever e a mostrar um pouco do que poderá encontrar nesta preciosa obra editada em 1959, primeiro volume das “Memórias Arqueológicas do Concelho de Góis – A Pedra Letreira”, num excelente trabalho conjunto de João de Castro Nunes, A. Nunes Pereira e A. Melão Barros.
Composto e impresso na Tipografia de A Comarca de Arganil, é de fácil leitura e poderá encontrá-lo na Biblioteca da União, no Colmeal.

A. Domingos Santos

Publicada por Francisco Silva

upfc-colmeal-gois.blogspot.com/

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A MINHA ALDEIA

" Da minha aldeia vejo quando da terra se pode ver no Universo....
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver. "
Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos"