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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O FORNO


Não é saudade que sinto
Por te ver fornalha ardente
Doutras eras que pressinto
Estarem dormindo somente.

Não é vontade de retorno
Do calor tão abrasivo
Que à boca desse forno
Mantinha meu ser activo.

Não é tristeza anilada
Por não mais ter o pão alvo
É simplesmente a toada
Que na mente ponho a salvo.

A lenha cantarolava
Sua queimada agonia
Mas ao povo ilhéu dava
O pão-nosso de cada dia.

Há o forno duma vida
Que arde por todo o ser
Em saudade adormecida
Por quem já não posso ver.

Suas mãos tão calejadas,
Junto à chama, tão quente,
Cozendo as escaldadas
Da Quaresma repetente.

Pela Páscoa: os folares,
Pela Festa: massa sovada;
Outros pães em alguidares,
P'lo tempo da desfolhada.

O milho vai rareando,
O trigo é importado;
O forno, de vez em quando,
Traz ao presente o passado.

Poema de: Rosa Silva ("Azoriana")

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A MINHA ALDEIA

" Da minha aldeia vejo quando da terra se pode ver no Universo....
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista a chave,
Escondem o horizonte, empurram nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver. "
Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos"